Quando uma mulher engravida, as preocupações com a saúde física da mãe e do bebê passam a ser prioridade ao longo do pré-natal biológico. Mas por todas as mudanças que se passam no corpo, na mente e que ainda estão por vir na vida das futuras mamães, outro aspecto importante deve ser levado em consideração e receber acompanhamento desde a descoberta da gravidez: o emocional. Isso porque a gestação pode desencadear transtornos psíquicos na mulher que podem ter impacto direto sobre a saúde da criança. Visando promover a saúde mental, acolher e dar voz às mulheres gestantes que fazem parte do seu quadro de colaboradoras e às esposas de seus funcionários, o Grupo Rota do Mar implantou o seu próprio projeto de pré-natal psicológico, o Amar-Ternar. O próximo encontro entre as participantes – último deste ano - acontece nesta quarta-feira (13/12), a partir das 14h, na sede do Grupo, em Santa Cruz do Capibaribe.
Pioneira na região do Agreste pernambucano, a iniciativa tem como objetivo orientar, apoiar e acolher as participantes para se fortalecerem emocionalmente para passar por todas as mudanças promovidas pela maternidade da melhor forma possível. Segundo a psicanalista Maria Josivalda Pereira, que coordena a iniciativa, esse espaço de acolhimento ajuda a prevenir e a diagnosticar situações adversas pré e pós-parto que podem desencadear problemas como depressão pós-parto, psicose puerperal, ideações suicidas, entre outros problemas com o vínculo mãe-bebê. “A maternidade ainda é muito romantizada. Há um choque entre a idealização e a realidade. Muitas mulheres passam pela gestação de forma tranquila, mas há um alto índice de adoecimento que não pode mais ser negado e subtratado. É preciso entender o que cada uma enfrenta, ouvir, validar, acolher e acompanhar sem julgamentos e sem pressão”, explica a psicanalista.
Ela e a psicóloga Janielly Dayse estão acompanhando 11 mulheres no Amar-Ternar. Até o momento, já foram realizados vários encontros em grupo e iniciado o atendimento individual de colaboradoras que já deram à luz. Nos encontros coletivos, foram proporcionados o espaço e o tempo para acolher as suas histórias, vivências enquanto mães, a falar das sensações e sentimentos, dos medos e angústias relacionadas à gestação e a sua vida pós-parto. Por meio do diálogo, a dinâmica pretende superar dúvidas, aliviar a ansiedade e aumentar a segurança e a autoconfiança em relação ao parto e ao relacionamento com o bebê.
Segundo Marta Ramos, diretora presidente do Grupo Rota do Mar e idealizadora do Amar-Ternar, o projeto surgiu da percepção da mudança de comportamento das colaboradoras que engravidavam. “Nosso objetivo foi oferecer a elas segurança no período mais sensível de suas vidas, para fortalecê-las, dar suporte e acolhê-las nesse momento de total transformação, além de prepará-las para voltarem ao trabalho com tranquilidade e motivação”, comentou.
Nos encontros individuais, as profissionais observam o comportamento da díade mãe-bebê. Entre os aspectos observados estão a troca, o acolhimento e como as mães estão emocionalmente na função de cuidar da criança. Nos casos em que houver o diagnóstico de algum problema, a colaboradora receberá acompanhamento psicoterapêutico individual e será encaminhada para receber os cuidados necessários.
“São muitos desafios a serem enfrentados. Um dos maiores é no tocante aos cuidados com o bebê, buscando a perfeição. Isso é da ordem do impossível. O que existe, e é possível, é uma função materna suficientemente boa, como defende o psicanalista inglês Donald Winnicott. Há também os saberes transgeracionais, ou seja, os conhecimentos de outras gerações que não podem serem refutados, porque eles são as marcas biográficas das histórias das duas figuras parentais (mamãe e papai), das quais o bebê faz parte. Ao longo dos encontros, a partir da escuta clínica, ajudamos a desenvolver recursos psíquicos importantes nesse momento, como a intuição, o bom senso, a sensibilidade, fortalecendo assim o laço amoroso de mãe-bebê.”, explica Maria Josivalda.
As mulheres entram no Amar-Ternar no quarto mês de gestação. O acompanhamento será realizado até que a criança complete três anos de idade. Na medida que novas colaboradoras forem engravidando, vão se integrando ao grupo que também serve para compartilhamento, troca de experiências e apoio entre as mães. Os encontros são mensais, acontecem na sede do Grupo Rota do Mar, em Santa Cruz do Capibaribe, e têm a duração de uma hora e meia.
Além de auxiliar na formação de um vínculo forte entre a mãe e o bebê antes e depois do nascimento, o pré-natal psicológico como oferecido pelo Amar-Ternar também pode contribuir para um melhor desenvolvimento emocional e cognitivo do bebê após o nascimento. A exposição constante a hormônios do estresse pode afetar, por exemplo, o desenvolvimento do cérebro fetal. Um ambiente mais tranquilo contribui para a capacidade de resiliência do bebê diante de desafios futuros e influenciar a forma como vai lidar com o estresse e as adversidades ao longo da vida. Segundo a psicanalista Maria Josivalda, o pré-natal psicológico favorece, ainda, o desenvolvimento saudável do bebê, prevenindo psicopatologias futuras ao longo da vida, como psicoses, TEA (Transtorno do Espectro Autista) e outras.
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